Apague a luz

O blog mudou e, agota, mora sozinho. Emprestei meu nome para endereço, e, desde então, recebe suas visitas por lá: http://www.luanasimonini.com.br  Sei que não apareço faz tempo. Deixei a casa aberta e, quando cheguei aqui, hoje, estava repleta de poeira. A sujeira estaciona em qualquer canto mesmo e, com este blog, não seria diferente. Faz … Mais Apague a luz

Quando blog vira livro

Era fim de 2014, num domingo preguiçoso de dezembro. O dia insistia em passar com pressa. Estava entediada. Daí, sentei em frente ao computador e meus dedos pareciam ter vida própria. Aceleradamente, três contos nasceram. Eram três histórias de desconhecidas, mulheres com nome, memórias, saudades e razões para estarem ali, diante de mim. Fiquei empolgada. … Mais Quando blog vira livro

Me diz

A paisagem borrada da janela chamou mais a atenção de Silvia do que o Neruda que esperava há dias para ser lido. Mesmo assim, o livro permanecia no colo, abraçado ao dedo dela, numa tentativa de parecer mais inteligente. O sol cortava o frio daquela manhã e coloria os olhos castanhos, aflitos por encontrar algum … Mais Me diz

Elevador

Naquela sexta-feira, Soraia estava prestes a terminar o expediente. Entre o sobe e desce de pessoas no elevador, ela tentava concluir a leitura do seu livro. Os dedos marcavam a frase interrompida a cada minuto. Eram 23 andares para escolher. Sentada numa cadeira fria, Soraia apertava o número do andar desejado com um sorriso automático … Mais Elevador

Casamento

Aquele era um dia de festa. Não tirava os olhos dela. Seus dedos percorriam pelo seu cabelo. Parecia rio em noite de lua nova, derramando breu nos seus ombros cor de terra. Ela era toda terra molhada, firme, mas macia. Enquanto ela se arrumava, eu ficava ali no canto de olho pra não atrapalhar. Meu riso … Mais Casamento

Nem ela, nem eu

Era noite. Da área, vi o sol correr pelos prédios feito notícia ruim. Estava esfregando as toalhas no tanque e balbuciava uma música qualquer como há muito não fazia. Não estava feliz, nem triste, mas estava ali, presente. Sentia o cheiro do sabão em pó e o suor encharcar minha cara de sal quando ele … Mais Nem ela, nem eu

A culpa é minha

Não me lembro direito como aconteceu. Sabe quando você se distancia das próprias memórias e parece assistir a um filme esquisito. Quem estava lá era um reflexo meu, feito espelho quebrado, sombra colorida de nada. Não era eu, mas era meu. Era a minha pele, meu corpo, meu ar. Das coisas nessa memória encardida, minha … Mais A culpa é minha

Cárcere

Cadeados, portas fechadas, a noite está encaixotada na minha janela. Vejo como o universo cabe todo num quadrado mal feito de cimento e angústia. As estrelas parecem se apertar para caber ali. O sinal toca. Desperta. É hora de levantar. O sol apagou as luzes teimosas que ainda insistem em aparecer. Sentada a maior parte … Mais Cárcere

Agulha

Minha avó não era uma mulher de histórias memoráveis. Pelo menos para os nossos convencionais heróis. Não acumulou grandes feitos na vida. Era viúva, já tinha enterrado dois dos seus oito filhos adultos. Todos no mesmo ano em que minha mãe se casou. Era uma senhora qualquer. Religiosa, monossilábica e que se escondia atrás dos … Mais Agulha

Sobras

Encontrei no lixo o que faltava em mim. Resto de vida das pessoas. Restos de memórias que me fazem lembrar de quem eu fui, aliás, de quem eu queria ser. As pessoas jogam fora o que sobra e, na minha vida, falta muita coisa. Uma vez, vi um criado mudo banguela de uma gaveta na … Mais Sobras

Ponto final

Escrevo pra não me esquecer. Não pra me lembrar de como arranquei sozinha meu primeiro dente de leite, ou como é a voz da minha avó ou de como meu coração congelou quando vi minha irmã pela última vez. As memórias fazem parte da gente como a pele. Encobre o que somos e cicatriza o … Mais Ponto final

Amora

Embaixo daquele teto branco, tudo tinha a mesma cor. Meus olhos se cansavam de ler as mesmas placas, os lábios trêmulos, as despedidas. A TV sem som, as visitas, os encontros, tudo tinha a mesma dor. Nos corredores, passos lentos de quem tem preguiça de chegar. Na madrugada fria, o lençol contorna corpos que choram … Mais Amora

Da janela

Na minha rua, tem uma velha que assiste à vida passar. Os passos apressados, as mães de mãos dadas com os filhos, os carros entrando na contramão, tudo é visto por ela da janela. Na minha rua, ninguém vê a velha. Como um quadro em silêncio, ela segura a cabeça pelos cotovelos naquela moldura invisível. … Mais Da janela

Em brasa

Minha mãe tinha uma voz grave. As palavras que saiam da boca dela pareciam um som escapando de uma estação de rádio não sintonizada. Ela sorria em momentos raros, mas eu lembro do barulho que sua garganta fazia pra rir. Não sabia se era tosse espremida ou riso solto. Entre os dedos, um cigarro. O … Mais Em brasa

Engarrafada

As luzes dos carros no trânsito engarrafado transformavam a rua em uma grande árvore de Natal. Era assim que Larissa se distraia desde pequena na lentidão do tráfego. Essa lembrança roubada da infância trouxe um sorriso estupido diante da situação. Do sorriso, um susto a trouxe de volta ao volante. Uma moto tomou sua atenção … Mais Engarrafada

Pelas mãos

Os gritos de dor penetravam as paredes daquele quarto. Vera acelerou os passos como se trouxesse a cura nas mãos. Ela atropelou os olhares curiosos e desmanchou da memória tudo que não fizesse sentido para aquele momento. Cada grito silenciava seus pensamentos. Parecia que os ponteiros caminhavam em câmera lenta para que Vera pudesse chegar … Mais Pelas mãos

Revoada

O que tem por trás das despedidas? Um abraço longo de duas pessoas que não sabem como será a partir dali. Despedir é transbordar em reticências. E eu transbordei, filha. Afoguei no meu silêncio. Meus pulmões não suportavam mais respirar palavras. Desmanchei. Não sei onde perdi as cores da parede desse quarto. Sempre foram brancas? … Mais Revoada

Na bagagem

O despertador entrou sem bater no sono dela. Catarina acorda com aquela sensação de mais cinco minutos para saber como o sonho, que ela não lembra, termina. Enquanto o sol aparece pelas cortinas sem fazer alarde, ela checa as notificações do celular. Ainda deitada, seus dedos deslizam pelas últimas notícias, fotos com filtro e mensagens … Mais Na bagagem

Sou seu silêncio

Dos silêncios preferidos da Rafaela, estava André. O sorriso dele tocava uma sinfonia inteira dentro do peito dela. Quando esse sorriso embalado atravessava seu olhar, Rafaela mudava a direção. Era tímida demais pra tocar a mesma música. Ela colecionava informações sobre ele como se preparasse diariamente para uma conversa que nunca aconteceu até então. Aquele … Mais Sou seu silêncio